terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Política - Argentina cria imposto para taxar os mais ricos

Governo argentino de Alberto Fernandez, com apoio da coalizão governista Frente de Todos (FdT) aprovou na Câmara dos Deputados, no dia 18 de novembro, um imposto que taxa entre 2 a 3,5% as grandes fortunas do país. O imposto sobre grandes fortunas (IGF) recairá sobre patrimônios acima de 200 milhões de pesos (2,7 milhões de dólares), atuando sobre cerca de 12.000 contribuintes do país.


De acordo com a FdT, o valor da arrecadação será utilizado para a compra de equipamentos de saúde para o enfrentamento da pandemia, para ajudar às pequenas empresas que sofreram durante a quarentena com créditos e subsídios e no desenvolvimento estrutural de bairros populares com obras que terão os moradores como empregados.

O projeto de lei tem autoria do deputado Carlos Heller e do líder da FdT Máximo Kirchner, filho da vice-presidente Cristina Kirchner. A alíquota cobrada pelo governo será recolhida apenas uma vez. O governo busca arrecadar assim, cerca de 300 bilhões de pesos (3,6 bilhões de dólares) , cerca de 1% do PIB deste ano. Depois da aprovação do projeto na Câmara, que teve 133 votos contra 115 , o texto segue agora para o senado.

No decorrer da assembleia que aprovou o projeto, deputados da oposição criticaram fortemente o novo imposto. De acordo com a bancada do Juntos por El Cambio, grupo de deputados apoiadores do antigo presidente Mauricio Macri, o tributo serve para que o governo faça populismo tributário. Segundo eles, a medida atrapalha os investimentos em um país que já tem altos índices de contribuição tarifária. Os empresários da Argentina também reclamam que o novo imposto pode gerar um bloqueio à geração de empregos e pode até mesmo criar uma desobediência fiscal.

A oposição também afirma que o país já se encontra em uma recessão causada pela pandemia e que a população pobre é de 40% na Argentina, com 10% vivendo na miséria. O imposto pode desacelerar ainda mais a economia fazendo com que os empresários invistam menos e fujam para outras regiões mais propícias às aplicações financeiras. O governo atual de Alberto Fernandez, no entanto, declara que o novo imposto afetará apenas 0,02% da população.

Em 2017 o número de países participantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que cobravam impostos sobre grandes fortunas eram apenas quatro, França, Noruega, Espanha e Suíça. Em 1990 eram 12. Houve uma desistência da cobrança, visto que os países que utilizavam a taxação não tiveram a resposta esperada. O custo-benefício era muito baixo e houve uma grande fuga de capital dos países que se utilizaram desse tipo de imposto. Além disso, há o fato de que as receitas são muito baixas em relação as tributações tradicionais. Em 2016 as receitas dos impostos sobre patrimônio líquido foram de 0,2% do PIB na Espanha e 1% na Suíça.

De acordo com Isaias Coelho, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os governos que adotaram este tipo de imposto acabaram percebendo que o resultado da cobrança era pífio. Os contribuintes arranjavam formas de se isentar da tarifa. Ele cita a Alemanha, que quando cobrava este tributo, via empresas e pessoas transferindo dinheiro, patrimônio, para países vizinhos, onde não havia tal oneração. O imposto deixou de ser cobrado no país em 1997. A fuga de capitais na França entre 1988 e 2008 foi de 1 trilhão de dólares e o imposto parou de ser cobrado no governo de Emmanuel Macron em 2018. Um dos motivos que levou à extinção do imposto foi a facilidade com que os mais ricos desviavam seus recursos evitando a tarifação do patrimônio.

É possível arrecadar mais com outros impostos, como por exemplo a taxação de fluxo de recursos ao invés da tributação sobre patrimônio. O imposto sobre ganhos de capital, por exemplo é menos desfavorável aos custos administrativos e mais eficiente na diminuição de desigualdades sociais. É necessária uma tributação que seja mais justa e assim desonere mais os empresários, não prejudicando os negócios do país. A tributação de fortunas na Argentina será cobrada uma única vez, mas pode prejudicar ainda mais um país que há anos vem tentando se reerguer de diversas crises econômicas.

A competição econômica entre os países é grande e a Argentina só superará os momentos delicados em que vive e com o agravamento da crise econômica pela Covid-19, se se tornar um país atrativo para investimentos. É preciso se converter em um lugar interessante para o aporte de recursos e investidores estrangeiros. A taxação de grandes fortunas não é a solução adequada para o crescimento da Argentina. Desestimula o investimento que efetivamente contribui para o desenvolvimento do país.

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